sexta-feira, 24 de maio de 2013

EXEMPLO DE COESÃO EM POEMA


Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores,

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra te palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Ode canta o Sabiá.

Gonçalves Dias.


ANÁLISE DA COESÃO NO POEMA

O poema apresenta exemplos claros de coesão lexical por referência, coesão lexical por repetição do mesmo item, coesão seqüencial
Por se tratar de um texto poético, a repetição tem a intenção de chamar a atenção do leitor.
Exemplos de coesão por repetição do mesmo item: Minha,  terra, tem, palmeiras, Onde, canta, Sabiá entre outras
Exemplos de coesão por referência: minha, nossas, nossos, aqui entre outros.

Exemplos de coesão seqüencial: Em cismar – sozinho, à noite

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A INTERTEXTUALIDADE NO TEXTO


1. Definição de intertextualidade

A intertextualidade abrange várias maneiras pelas quais, tanto a produção quanto o entendimento de algum texto depende do conhecimento que o interlocutor tem de outros textos.     A partir daí, passa então a existir fatores relativos a conteúdo, fatores formais e fatores ligados a tipos textuais.
O conhecimento de mundo que o leitor tem está ligado com os fatores relativos ao conteúdo, exemplo claro disso são artigos jornalísticos que fazem cobertura sobre determinado fato ocorrido em algum lugar, subentende-se que os moradores daquele local já estão a par do ocorrido, então a revista ou o jornal faz sua matéria dando cobertura aos fatos novos que surgem sem se preocupar em mostrar o assunto publicado anteriormente, apesar de serem jornais diferentes cada artigo pressupõe que os leitores conheçam os artigos sobre o assunto, ficando assim estabelecido com eles uma intertextualidade, ao qual um texto faz menção a outro texto já estabelecido anteriormente.
Para se obter uma intertextualidade de caráter formal é preciso a vinculação à tipologia textual, a bíblia, por exemplo, contém textos que cada leitor interpreta de uma maneira, porém, ao fazer uma leitura com o auxílio de alguém que tem entendimento da mesma, certamente ficará mais claro a interpretação e assim poderá perceber a significação pretendida pelo autor dos textos bíblicos.
Quanto à intertextualidade tipológica, se deve à estrutura que cada texto está caracterizado e para que ocorra a compreensão é preciso que apresente certas características de coerência e coesão.
Ao produzirmos um texto ou ao interpretarmo-lo o mesmo, recorremos ao conhecimento prévio de outros textos, ou seja, valemo-nos da intertextualidade.
Ao produzirmos um texto, repetimos expressões, enunciados ou trechos de outros textos, ou o estilo de determinado autor e o discurso, temos então, a intertextualidade.
Até mesmo as crianças constroem seu modelo de história, pois de tanto ouvirem os adultos contarem, elas acabam criando uma base para construção de suas próprias narrativas.


2. A RELAÇÃO ENTRE  TEORIA E O CORPUS COLETADO

2.1.  TEMA: Canção do Exílio

Para a análise, retiramos fragmentos de vários textos para comparar com o poema "Canção do exílio" de Gonçalves Dias. Após a leitura dos textos, percebemos que foram escritos fazendo alguma intertextualidade com o texto original, intertextualidade esta que pode ser implícita ou explícita, paródia ou paráfrase, ou pode até mesmo ser lembrada no texto por pequenas palavras e por estruturas textuais.
TEXTO 01

Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores,

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra te palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Ode canta o Sabiá.
Gonçalves Dias.


Maingueneau (1976, p.39), afirma que “o intertexto é um componente decisivo das condições de produção e que um discurso não vem ao mundo, numa inocente solitude, mas constrói-se através de um já dito em relação ao qual toma posição”.

O conceito de intertextualidade aponta para a produtividade dos textos, para como os textos podem transformar textos anteriores e reestruturar as convenções existentes (gêneros, discursos) para gerar novos textos. Mas essa produtividade na prática não está disponível para as pessoas como um espaço ilimitado para a inovação textual e para os jogos verbais: ela é socialmente limitada e restringida e condicional conforme as relações de poder. (Fairclough- apostila).

Nas entrelinhas dos textos existem ou existiram fragmentos de outros textos. Sendo assim, o que pode ser mostrado é que todo texto é heterogêneo, revelando assim o seu interior com seu exterior.
Aqui veremos um outro quadro contendo fragmentos do texto, este que é um dos mais parodiados de nossa literatura. Podemos ver presente no quadro a seguir a importância da leitura sobre as relações intertextuais.
TEXTO 02
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametistas,
[...]
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
[...]
Murilo Mendes.

Murilo Mendes faz uma alusão a Gonçalves Dias que exalta a natureza brasileira. Os versos de Murilo Mendes citam Gonçalves Dias com a intenção oposta, pois pretende ridicularizar o nacionalismo exaltado. Um texto cita outro, ou seja, intertextualiza com basicamente finalidades distintas, porém que são a reafirmação de alguns sentidos do texto citado. Em relação ao texto de Murilo Mendes ele inverte o sentido e faz "... um tipo de intertextualidade fraca, uma vez que se nota apenas uma leve menção a outro texto ou a um componente seu". (Paulino, 1995, p. 29).
Aqui temos duas "Canção do exílio" diferentes. Murilo Mendes faz uma paródia do poema de Gonçalves Dias, por meio de sua paródia”Canção do Exílio” e o leitor a reconstitui fazendo um questionamento através das pistas que a paródia contém.
Ao dizer “minha terra tem macieiras da Califórnia”, o autor manifesta sua contrariedade utilizando ironia para intertextualizar seu poema e, por meio dele, mostrar seu descontentamento em relação à sua pátria. As “macieiras da Califórnia” retratam os produtos importados pelo Brasil, pois estamos vivendo num momento em que a maioria dos produtos consumidos pela população brasileira  é importada e quem perde com isso é o país.
Enquanto no poema de Gonçalves Dias, diz “minha terra tem palmeiras”, retratando as belezas da terra em que vive, exaltando o próprio país,  Murilo Mendes também usa essa exaltação afirmando “nossas flores são mais bonitas/nossas frutas são mais gostosas”, dizendo que as coisas que nós temos aqui são melhores, mais bonitas, porém, de que adianta tudo isso se custam preços altíssimos “mas custam cem mil Réis a dúzia”? Não interessa ter coisas belas em nosso país se não podemos pagar por elas e até mesmo tê-las.
Diante desta questão, podemos analisar um fato evidente no qual o sujeito pertencente à uma determinada formação epistemológica possui quesitos básicos para desencadear diversos questionamentos sobre algum assunto pelo qual esteja insatisfeito. Murilo Mendes tece uma crítica ao Brasil mostrando sua insatisfação e cria esta paródia que, também,  deixa pistas, mostrando ser um intertexto. Ao falar “os poetas de minha terra são pretos  que vivem em torres de ametistas” ele ironiza enfatizando o meio social, a escravidão dos negros subjugados que há muito existiu e ainda existe, talvez não a escravidão negra, mas vários outros tipos de escravidão. Podemos associar a palavra “torres” com os morros da favela onde a maioria negra constrói as suas casas.
Murilo Mendes apresenta sua revolta, figurando-se como um individuo que está descontente com as coisas existentes em seu país e julga-se exilado em sua própria terra por não compartilhar os valores nela vigentes.

TEXTO 03
Canto de Regresso à Pátria
“Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.
[...]
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
[...]
Oswald de Andrade.

Este texto lembra o original de Murilo Mendes pela estrutura semântica, pois o objetivo da paródia é justamente "desmerecer, troçar, zombar" com a originalidade do texto mudando o sentido. Ao fazer a troca de "palmeiras" por "palmares" do poema de Gonçalves Dias, Oswald de Andrade muda o sentido semântico das duas palavras: "palmeiras", paisagem que embeleza o país; "palmares", relaciona-se com escravidão, tristeza surgida em épocas remotas que de certa forma persiste até hoje.  A substituição  “Palmares”  por  “palmeiras” é uma crítica história, com efeito irônico e crítico. Na poesia de Oswald de Andrade "ocorre um processo de inversão de sentido, com um deslocamento completo". (Sant'anna, 1995, p. 25), pois os sentidos realmente causaram efeitos diferentes.

REFERENCIAS
cefaprocaceres.com

terça-feira, 21 de maio de 2013

"O que se entende por variedade tipológica da elaboração textual? Como o ensino tradicional a aborda?"



   A elaboração textual está baseada, numa diversidade tipológica, que se bem explorada, á partir das diversas situações do dia-a-dia, de diversos e diferentes níveis de texto falado e texto escrito.
   Tudo o que se fala pode se tornar escrito, por exemplo: e-mail, recado de geladeira, sms, diálogo, etc. A variação linguística pode ser investigada tanto na oralidade quanto na escrita.Não se trata de ensinar e falar, mas de identificar a grandiosa riqueza e variabilidade dos usos da língua.

  A análise dos textos pode demonstrar relações mútuas e diferenciadas que a fala mantém com a escrita, influenciando uma á outra nos diferentes processos de aquisição da escrita.

 Além disso, viabiliza,também a investigação das diferenças e semelhanças nas atividades que relacionam fala e escrita, facilitando a abordagem da diversidade de processos de contextualização inserida nas produções orais e escritas.

 A fala e a escrita, uma faz parte e da continuidade a outra, com características que distinguem as variações das estruturas, seleções lexicais,etc.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Conhecimento de Mundo e Leitura: Perspectivas Inovadoras para a Compreensão Textual


 


JMA-Jornal Meio Ambiente por Silvio Profirio da Silva

            Nos últimos anos, o ensino de Língua (seja ela portuguesa ou estrangeira) tem passado por inúmeras modificações. Com a publicação de documentos oficiais (PCNs e OCNs), surge um novo enfoque, com base em perspectiva textual e, sobretudo, contextual, o que ocasionou diversas mudanças nos parâmetros norteadores do ensino e, consequentemente, novas estratégias de ensino da leitura. De acordo com Santos (2002, p. 30-31), “a partir da década de 80, deslocou-se o eixo do ensino voltado para a memorização de regras e nomenclaturas da gramática de prestígio para um ensino cuja finalidade é o desenvolvimento da competência linguístico-textual, isto é, o desenvolvimento da capacidade de produzir e interpretar textos em contextos sócio-históricos verdadeiramente constituídos”. Essa nova perspectiva tem sido adotada em diversos processos seletivos.
            Em função disso, as mais recentes provas do Enem e de Vestibulares em geral no mais diversos estados brasileiros já trazem uma nova abordagem. Nessas provas, a leitura é alçada à perspectiva de atividade de construção/ elaboração de sentidos, o que abrange aspectos/ fatores linguísticos, cognitivos, discursivos e sociais (KOCH & ELIAS, 2006). Pautada em uma perspectiva textual e contextual, essa abordagem requer que o leitor seja apto a compreender e interpretar diversos gêneros/tipos de texto a partir de diversas estratégias de leitura. Um dos aspectos mais solicitados nessas provas refere-se ao ato de identificar o objetivo do gênero textual ou a intenção e os propósitos comunicativos do autor. Além disso, o leitor é levado a trabalhar com os diversos aspectos do gênero/tipo textual, ou seja, pensando em fatores internos e externos, como: a data da publicação, o veículo onde foi publicado (revista, jornal, livro, site etc.), o título do texto. Todos esses aspectos auxiliam na compreensão textual.
            Outro aspecto relevante refere-se ao fato de o leitor ser estimulado a mobilizar seu conhecimento de mundo durante o ato da leitura. De acordo com Koch e Elias (2006, p. 39), nesse processo, “o leitor mobiliza vários tipos de conhecimentos armazenados na memória”. O primeiro deles, o linguístico, engloba os conhecimentos relativos ao vocabulário (léxico) e à gramática. O segundo, o conhecimento enciclopédico, abrange o conhecimento de mundo; é oriundo de vivências pessoais. A junção desses conhecimentos leva o leitor a formular hipóteses, fazer antecipações, remeter a outros textos e a episódios sócio-históricos da realidade brasileira, como sinalizam Koch e Elias (2006). Um exemplo que pode ilustrar as questões abordadas neste texto é uma charge publicada no dia seguinte ao primeiro debate do segundo turno das eleições do ano de 2010. Contudo, como não conseguimos inserir a imagem neste artigo (por conta de um erro na plataforma de envio), apresentamos os diálogos entre os personagens da charge.
            Em uma charge divulgada pelo jornal O Paraná em 11/10/2010 aparecem os diálogos entre dois personagens. O primeiro diz: “Eu sei o que ela vai usar no próximo debate”. O outro responde: “Uma focinheira?” Essa charge faz uma crítica à postura da então candidata a presidente da República, Dilma Rousseff, durante o primeiro debate do segundo turno. Para que o leitor perceba o objetivo do gênero textual em foco [tecer uma crítica], é necessário que ele que utilize seu conhecimento de mundo, o que remete ao episódio político. Além disso, é necessário que o leitor considere os elementos internos e externos desse gênero textual. Por exemplo, o termo “focinheira” evidencia a crítica do autor em relação ao comportamento da candidata, que foi considerado agressivo. Embora a charge não mencione o nome dos candidatos envolvidos nesse episódio, percebemos a intenção comunicativa do autor desse gênero em criticar a suposta agressividade da candidata do PT. A partir dos contextualizadores externos (a data da publicação), podemos inferir que a charge faz alusão a um fato político ocorrido recentemente no país. Todos esses fatores refletem as novas práticas e estratégias de leitura por meio das quais o leitor “é levado a mobilizar uma serie de estratégias, tanto de ordem linguística como cognitivo-discursiva” (Koch; Elias, 2006, p. 7).

Referências

ALBUQUERQUE, Eliana Correia de. . Mudanças didáticas e pedagógicas no ensino da língua portuguesa: apropriações de professores.Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
SANTOS, Carmi Ferraz. A formação em serviço do professor e as mudanças no ensino de Língua Portuguesa. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v. 3, nº 2, p. 27-37, jun. 2002.

O PAPEL DA LINGÜÍSTICA NO ENSINO DE LÍNGUAS


1. O Tema e seu enfoque

Esta exposição trata da relevância de alguns conceitos lingüísticos tidos hoje
como centrais no tratamento da língua em sala de aula. É evidente que tanto
esses conceitos como sua centralidade não são consensuais já que essa
centralidade é definida com base em postulados teóricos aqui assumidos, que
não se impõem naturalmente. Aliás, em questão de língua nada é natural2
, tendo
em vista ser a língua um fenômeno histórico, social e cognitivo.
O que se terá aqui é uma reflexão sobre o papel da Lingüística em sala de aula,
os modos de sua presença e o grau de suas influências. Paralelamente a essa
tentativa de situar os conceitos dentro de uma perspectiva sócio-cognitiva
defendem-se de maneira sistemática duas posições centrais:
• primeiro, que ao se definir a "relevância da lingüística
no tratamento da língua", redefine-se a própria noção de "ensino de
língua" como uma questão de trabalho com e sobre a língua e,
• segundo, que o tratamento3
 da língua em sala de aula é uma
questão, num certo sentido, principalmente lingüística (com
tudo o que envolve o fenômeno linguagem) e não didática.

2. Pano de fundo e perspectiva

Antes de qualquer outra observação, gostaria de frisar que esta não será uma
exposição em Lingüística Aplicada4
. Esta é simplesmente uma tentativa de
identificar os papéis da lingüística no “ensino de língua” tendo por objetivo
central compreender como se deu a correlação entre o desenvolvimento da
pesquisa e sua aplicação ao ensino. Em geral, quando se tem um tema como
este pensa-se na Lingüística Aplicada e, em particular, no Ensino de Língua
Estrangeira, Segunda Língua ou Língua Materna.5
Meu tema situa-se no recorte histórico contemporâneo e tem caráter teórico.
Serve como uma pequena contribuição para discussão futura. Em síntese, após
breves considerações gerais, concentro-me nestas três indagações: (a) quais as
teorias mais adequadas para o trato da língua em sala de aula, se é que existe
uma tal teoria; (b) qual a intensidade da presença de conceitos lingüísticos em
sala de aula e (c) quais os aspectos teóricos que merecem mais ênfase.
Seguramente, estas três indagações só serão respondidas na medida em que se
der uma resposta a uma questão prévia de fundo que pode ser objeto de
interminável discussão. Trata-se do problema dos objetivos do “ensino de
língua”. Quanto a este aspecto, pelo menos em grandes linhas, podemos
concordar com a sugestão feita pelo Documento oficial do MEC, “Matrizes
Curriculares de Referência para o SAEB” (1999) que, em síntese, visa a
fornecer elementos para a montagem de descritores para a avaliação de
habilidades lingüísticas das 4ª e 8ª Séries do Ensino Fundamental e a 3ª Série
do Segundo Grau. Lê-se nesse Documento que:
A finalidade do ensino de Língua Portuguesa, tal como vem sendo
 tratada em diversas propostas curriculares, é criar situações nas quais
 o aluno amplie o domínio ativo do discurso nas diversas situações
 comunicativas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem,
 de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita,
 ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da
 cidadania.(p 13)
Para tanto, o mesmo documento considera a língua como “trabalho”, atribui-lhe
“dimensão histórica”, privilegia a “análise da dimensão discursiva e pragmática da linguagem” situada em contextos da vida diária como “prática social”. Em
suma, sugere a formação de um cidadão habilitado a usar de modo adequado
sua língua em situações cotidianas dos mais diversos tipos para ler e ouvir, falar
e escrever. O documento evita separar a leitura e a produção de texto em duas
áreas diversas e caracteriza o conhecimento lingüístico como “operacional”, isto
é, integrado à atividade social do indivíduo inserido em seus contextos culturais
e necessidades práticas. A rigor, o documento é politicamente correto e
teoricamente adequado.

Neste contexto, torna-se relevante frisar, até como forma de contraste, a posição
maleável desse documento oficial que inaugura nova e promissora perspectiva
pelo menos na intenção. Pois é notório que a escola oficial, enquanto aparato
educacional, no Brasil, sempre se apresentou, desde o século XVIII, como
guardiã da língua escrita padrão, postulando a idéia de uma unidade lingüística
nacional e, até, transnacional. A escola não só se arvorou em guardiã da língua
como de suas normas e de suas formas mais prestigiosas. Reproduziu modelos
idealizados e que devem ser continuados como forma de garantia da boa
expressão e manutenção de valores culturais desejáveis por todos os cidadãos.
O curioso é que este tipo de raciocínio lapidar é ao mesmo tempo lapidarmente
vesgo na medida em que esquece que a própria norma lingüística ensinada no
Brasil é derivação de derivas históricas. A rigor, sem que se dê conta, essa
mesma escola vai preservando a variação e a mudança.
Antes de iniciar a exposição, lembro o que afirmou Magda Becker Soares
(1998) em palestra na PUC-SP, ao discorrer sobre as “Concepções de
linguagem e o ensino de Língua Portuguesa”.6
 Para a Autora, há diversas
perspectivas das quais se pode fazer uma reflexão sobre o ensino: a perspectiva
da própria ciência, ou então as perspectivas psicológica, política, social,
cultural e histórica. No presente caso, vou tratar meu tema da perspectiva da
própria ciência e da perspectiva sócio-histórica. Preocupa-me como o saber
escolar, na sua relação com o saber científico, foi se constituindo ao longo do
tempo. Mas isto não significa que ignore a relevância das demais perspectivas.
Os estudos do português, sob o seu aspecto filológico, já vinham se
desenvolvendo nos meados do século XIX e, com sucesso, já mapeavam os
falares e as diversas línguas em suas peculiaridades com descrições
dialetológicas e históricas tendo como metodologia básica de trabalho o
comparativismo essencialmente histórico e descritivo. Temos dessa época
muitos trabalhos sobre a relação do Português do Brasil e o Português de Portugual.

A perspectiva é ainda pré-estruturalista porque não distingue níveis de análise
nem se dá ao trabalho do estudo sincrônico. Depois surge a perspectiva
estruturalista que dominará durante o século XX até os anos 60 para dar lugar a
uma visão multifacetada e pós-estruturalista, a partir dos anos 60, com o
surgimento da pragmática, sociolingüística, psicolingüística, etnometodologia e,
mais recentemente, o cognitivismo, que desembocam nas mais diversas
correntes que hoje tanto influenciam o ensino.
Diante desse quadro, num primeiro momento, gostaria de refletir brevemente
sobre os dois pólos extremos da trajetória histórica do ensino de língua no
Brasil.

3. Das Crestomatias aos Parâmetros Curriculares Nacionais

Se observarmos os manuais usados pelas escolas do século XIX até o primeiro
quartel do século XX, constatamos que, no Brasil, eles praticamente inexistem
na forma como os conhecemos hoje.7
 Tirante as Cartilhas de Alfabetização,
para os demais níveis nos Ginásios e Cursos Normais, a língua é tratada com
base em Florilégios, Crestomatias, Antologias e Seletas de textos escolhidos
entre Narrativas, Lendas, Fábulas, Moral, Religião, Geografia, História,
Biografias, Apólogos, Romances, Sonetos, Poesia lírica, épica, Sátiras etc. de
consagrados autores brasileiros e portugueses ou de traduções. É a perspectiva
do guardião da boa linguagem.
Exemplo típico dessas obras é a famosa Crestomatia de Radagasio Taborda, de
1931, da Editora Globo, que em 1953 atingia a sua 25ª edição com 140.000
exemplares vendidos. Investigações realizadas nos últimos tempos pela Câmara
do Livro dão conta de que cerca de 70% do mercado livreiro no Brasil constituise de obras didáticas, o que é admirável, já que tem o próprio Estado brasileiro
(governos municipais, estaduais e federal) como comprador. Adotada na
maioria das Escolas Normais e nos Ginásios do Brasil, essa obra seguia os
preceitos do Ministério da Educação publicados no Diário oficial de 31 de julho
de 1931, que determinavam como deveria ser o ensino do Português nas três
primeira séries do ensino fundamental.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

COERÊNCIA TEXTUAL


Coerência é a ligação em conjunto dos elementos formativos de um texto. É o instrumento que o autor vai usar para conseguir dar um sentido completo a ele. 
Em uma redação, para que a coerência ocorra, as idéias devem se completar. Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma concatenação de idéias entre as frases, elas acabarão por se contradizerem ou por quebrarem uma linha de raciocínio. Quando isso acontece, dizemos que houve um quebra de coerência textual. 
A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do texto e do texto com relação ao mundo. Ela é também auxiliada pela coesão textual, isto é, a compreensão de um texto é melhor capturada com o auxílio de conectivos, preposições, etc. 
A incoerência de um texto pode ser observada por um falante da língua, mas não é tão fácil identificá-la quando estamos escrevendo. 
Pode-se dizer que um texto é incoerente quando o entendimento deste é comprometido. Na maioria das vezes esta pessoa está certa ao fazer esta afirmação, mas não podemos achar que as dificuldades de organização das idéias se resumem à coerência ou a coesão. É certo que elas facilitam bastante esse processo, mas não são suficientes para resolver todos os problemas

REFERÊNCIAS
CLOLÉGIO WEB